
Lojistas começam o segundo semestre mais rigorosos e com o pé no freio nos planos de expansão. Economistas preveem alta de endividamento e inadimplência dos consumidores
O segundo semestre de 2025 começa mais desafiador para os empresários do varejo, principalmente por causa de um indicador, a taxa básica de juros, a Selic, agora em 15% ao ano.
Lojistas e especialistas do varejo ouvidos pelo Diário do Comércio admitem que planos para aberturas de lojas do início do ano estão sendo revistos em razão do encarecimento do crédito.
“Como projeto, tínhamos mais lojas para inaugurar em 2025. Por conta da alta da taxa de juros, algumas lojas ficaram inviáveis. Continuamos otimistas, expandindo, mas com um rigor maior”, afirma Leninha Palma, presidente do conselho de administração da rede Caedu.
Com quatro lojas de artigos para decoração em São Paulo, a Duchapéu, com intenção de avançar para o interior paulista, decidiu colocar o pé no freio nos investimentos.
“Não vamos crescer neste ano. Algumas redes estão expandindo, mas nós decidimos não correr riscos neste momento”, afirma Ozeas de Araújo, sócio-proprietário da Duchapéu.
Quando os juros estão altos, a condição para abrir loja tem de ser bem mais favorável, de acordo com Paulo Matos, diretor-geral da Tommy Hilfiger no Brasil, com quase 30 lojas próprias, 60 franquias e 2 mil multimarcas espalhadas pelo país.
“Se aceitávamos dois anos, dois anos e meio de payback, agora tem de ocorrer em prazo mais curto, um ano, um ano e meio. Sem condição mais favorável, a conversa nem continua”, diz.
Apesar de os indicadores de renda e emprego estarem positivos, o consumo, de acordo com Araújo, da Duchapéu, não está favorável. As vendas das suas lojas caíram 20% neste ano.
A preocupação com a taxa de juros foi assunto na feira da ABF (Associação Brasileira de Franchising), que aconteceu no último final de semana em São Paulo.
Lojistas e especialistas em varejo que estiveram no evento dizem que o que amenizou a preocupação foi ver o local lotado e algumas marcas em momento de expansão.
A explicação para esses dois movimentos contrários – algumas redes abrindo lojas e outras com o pé no freio – tem tudo a ver, dizem, com a necessidade ou não de recorrer a bancos.
“As empresas, as franquias, que dependem de bancos devem, naturalmente, segurar a expansão, até porque juros altos afetam o crescimento e a sobrevivência das empresas”, diz Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).
Adir Ribeiro, CEO e fundador da Praxis Business, consultoria especializada em varejo, diz que, de modo geral, o processo de expansão das marcas começou a ficar morno.
“As franqueadoras, que planejavam abrir 30, 40 lojas, contando com as receitas futuras, deverão enfrentar um período mais desafiador. Boa parte dos lojistas não está feliz. As Bets (empresas de apostas online) também estão tirando dinheiro do mercado”, afirma.
Ao mesmo tempo, diz Hirai, é preciso considerar que o país está com uma das menores taxas de desemprego, que a renda real ainda está crescendo e que a inflação está sob controle.
“Os voos para os Estados Unidos e para a Europa estão lotados, assim como os resorts no Nordeste. Os restaurantes estão cheios e nunca se viu tantos lançamentos imobiliários”, afirma.
Se olharmos São Paulo por meio de um drone, diz Hirai, será possível ver os milhares de guindastes nas novas construções espalhadas pela cidade.
“Os shoppings mais tradicionais de São Paulo estão praticamente sem vacância, com filas de espera para entrar”, afirma.
Hirai diz que trabalha com 11 marcas e que estas estão em expansão, como Daiso, Soneda, Lindt, Adidas, grupo Halipar, Panobianco. “Devo abrir umas 40 novas lojas neste ano”, diz.
Adir, da Praxis Business, já sente da clientela (cerca de 70 empresas) menos disposição para investimentos e maior preocupação com melhoria de performance e sobrevivência.
O que vem por aí
A euforia de algumas marcas com expansão tende a perder força, de acordo com dados e expectativas de economistas que acompanham de perto o mundo do varejo e do consumo.
O endividamento das famílias paulistas está em um dos patamares mais altos da história, 71,4% em junho deste ano, ainda que o percentual seja parecido com o de 2024 (71,3%).
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